quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Te valorizo.



Se eu pudesse mostrar o que você me deu

Eu mandava embrulhar chamaria de meu.

Melhor forma não há, pra guardar um amor.

Então preste atenção ou me compre uma flor

Vem, me faz um carinho, me toque mansinho,

Me conta um segredo, me enche de beijo.

Depois vai descansar, outra forma não há

Como eu te valorizo, eu te espero acordar.

Se eu ousar te contar o que eu sonhei.

Pode até engasgar, pagaria pra ver.

Melhor forma não há, pra provar meu amor

Eu te presto atenção tento ser sua flor.

Vem, te faço um carinho, eu te toco mansinho,

Te conto um segredo, te encho de beijo.

Depois vou descansar, não vou te acompanhar.

Espero que entenda.

Vem, te faço um carinho, te toco mansinho,

Te conto um segredo ou te encho de beijo,

Depois vou descansar, não vou te acompanhar.

Espero que entenda e volte pra cá.

Sonho Morto




Nosso sonho morreu. Devagarinho,
Rezemos uma prece doce e triste
Por alma desse sonho! Vá… baixinho…
Por esse sonho, amor, que não existe!
Vamos encher-lhe o seu caixão dolente
De roxas violetas; triste cor!
Triste como ele, nascido ao sol poente,
O nosso sonho… ai!… reza baixo… amor…
Foste tu que o mataste! E foi sorrindo,
Foi sorrindo e cantando alegremente,
Que tu mataste o nosso sonho lindo!
Nosso sonho morreu… Reza mansinho…
Ai, talvez que rezando, docemente,
O nosso sonho acorde… mais baixinho...


Florbela Espanca

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Gato pensa?



Dizem que gato não pensa
Mas é difícil de crer.
Já que ele também não fala
Como é que se vai saber?
A verdade é que o Gatinho,
Quando mija na almofada,
Vai depressa se esconder:
Sabe que fez coisa errada.
E se a comida está quente,
Ele, antes de comer,
Muito calculadamente,
Toca com a pata pra ver.
Só quando a temperatura
Da comida está normal,
Vem ele e come afinal.
E você pode explicar
Como é que ele sabia
Que ela ia esfriar?

Não me importo.


Odiava os cochichos para esconder as coisas dos outros. A constante instrução para “falar baixo ou os vizinhos vão escutar”. Minha resposta habitual para isso era: “ E daí?”

a insanidade do amor II


CONFRONTO


Bateu, Amor à porta da Loucura.
"Deixe-me entrar, pediu, sou teu irmão.
Só tu me limparás da lama escura
a que me conduziu a paixão"

A Loucura desdenha recebê-lo,
sabendo quanto o Amor vive de engano,
mas estarrece de surpresa ao vê-lo, de humano que era, assim tão inumano.

E exclama: "Entra correndo, o pouso é teu".
Mais que ninguém mereces habitar
minha casa infernal, feita de breu.

Enquanto me retiro, sem destino,
pois não sei de mais triste desatino
que este mal sem perdão, o mal de Amor"
Carlos Drummond de Andrade

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

basta.


tens o melhor e o pior de mim.

a insanidade do amor.


Amar

Eu quero amar, amar perdidamente!
Amar só por amar: aqui…além…
mais este e aquele, o outro e toda a gente..
Amar! Amar! E não amar ninguém!

Recordar? Esquecer? Indiferente!
Prender ou desprender? É mal? É bem?
Quem disse que se pode amar alguém
durante a vida inteira é porque mente.

Há uma primavera em cada vida:
é preciso cantá-la assim florida,
pois se Deus nos deu voz foi prá cantar

E se um dia hei de ser pó, cinza e nada
que seja minha noite uma alvorada,
que me saiba perder…pra me encontrar…


Florbela Espanca

VAMPIROS




Eu não acredito em gnomos ou duendes, mas vampiros existem. Fique ligado, eles podem estar numa sala de bate-papo virtual, no balcão de um bar, no estacionamento de um shopping. Vampiros e vampiras aproximam-se com uma conversa fiada, pedem seu telefone, ligam no outro dia, convidam para um cinema. Quando você menos espera, está entregando a eles seu rico pescocinho e mais. Este "mais" você vai acabar descobrindo o que é com o tempo.

Vampiros tratam você muito bem, têm muita cultura, presença de espírito e conhecimento da vida. Você fica certo que conheceu uma pessoa especial. Custa a se dar conta de que eles são vampiros, parecem gente. Até que começam a sugar você. Sugam todinho o seu amor, sugam sua confiança, sugam sua tolerância, sugam sua fé, sugam seu tempo, sugam suas ilusões. Vampiros deixam você murchinha, chupam até a última gota. Um belo dia você descobre que nunca recebeu nada em troca, que amou pelos dois, que foi sempre um ombro amigo, que sempre esteve à disposição, e sofreu tão solitariamente que hoje se encontra aí, mais carniça do que carne.

Esta é uma historinha de terror que se repete ano após ano, por séculos. Relações vampirescas: o morcegão surge com uma carinha de fome e cansaço, como se não tivesse dormido a noite toda, e você se oferece para uma conversa, um abraço, uma força. Aí ele se revitaliza e bate as asinhas. Acontece em São Paulo, Manaus, Recife, Florianópolis, em todo lugar, não só na Transilvânia. E ocorre também entre amigos, entre colegas de trabalho, entre familiares, não só nas relações de amor.

Doe sangue para hospitais. Dê seu sangue por um projeto de vida, por um sonho. Mas não doe para aqueles que sempre, sempre, sempre vão lhe pedir mais e lhe retribuir jamais.

Martha Medeiros

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

preste mais atenção.


palavrão, meu filho, é condomínio, palavrão é fome, palavrão é a maldade que estão fazendo com um colírio custando 40 mil réis, palavrão é não ter cama nos hospitais.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

doce lembrança


"Não há quem não feche os olhos ao comer, não há quem não feche os olhos ao cantar a música favorita, não há quem não feche os olhos ao beijar, não há quem não feche os olhos ao abraçar. Fechamos os olhos para garantir a memória da memória. É ali que a vida entra e perdura, naquela escuridão mínima, no avesso das pálpebras. Concentramo-nos para segurar a dispersão, para segurar a barca ao calor do remo. O rosto é uma estrutura perfeita do silêncio. Os cílios se mexem como pedais da memória. Experimenta-se uma vez mais aquilo que não era possível. Viver é boiar, recordar é nadar. Escrevo na água, no vento da água. O passado sem os olhos fechados é como uma roupa enrugada. Sem corpo. Sem as folhas dos plátanos."

[Fabrício Carpinejar]